Alguns deles diziam que seria a ira de Deus caindo sobre eles, outros diziam que seria o mal dos mares, porém Atena sabia muito bem da doença que os assolava. Uma doença quase que desconhecida em 2074 devido à educação alimentar e saudável das escolas e instituições.

Ela não precisava ajudá-los, haviam chegado no Brasil sem sua ajuda antes, chegariam novamente sem sua ajuda.

O cozinheiro, Ignoto, cozinhava somente para pessoas de maior cargo, enquanto para os tripulantes comuns, recebiam uma pequena ração diária composta por biscoitos e duas porções de água e vinho. As carnes, frutas e legumes eram apenas servidos para os capitães e cargos importantes.

Por ser aprendiz de escrivão, Joaquim não se misturava com os tripulantes na hora das refeições, comia sempre ao lado de Pero Vaz, mostrando que pertencia ao escrivão para manter sua alimentação equilibrada.

O número de doentes passou a aumentar ainda mais, por conta da falta de alimentação diversificada e também pela desidratação extrema devido ao sol forte diário.

Muitos começaram a ter complicações após alguns dias e Manuel, o doutor daquele navio, estava começando a preocupar-se, por não saber o que fazer naquela situação. Tudo estava começando a se tornar mais difícil.

Alguns homens começaram a revoltar-se dentro da frota, ocorrendo até brigas em decorrência do mau tratamento e da falta de água.

Pedro não sabia o que fazer, o caos tomava conta das embarcações e os comandantes não sabiam como contê-la. Vários corpos foram jogados ao mar numa noite onde uma grande revolta ocorreu no navio de Nicolau Coelho.

Atena não esperava que evitar algo causaria algo pior, independente disso, precisou conversar com Manuel e Ignoto.

Era de manhã quando Joaquim foi conversar com Cabral.

– Pedro, o senhor precisa tomar alguma providência logo, por favor.

– E quem és você a me dar ordens, garoto. Já conversei com os comandantes, mas não sabemos o que fazer para controlar a doença. – Pedro olhou no fundo dos olhos do menino.

– Bem, eu sei como. – com um ar de presunção, Joaquim falou na mais pura calma.

Pulando da cadeira onde estava, agarrou Joaquim pela gola da camisa.

– Diga-me, agora, Joaquim, como sabe? – os olhos de Pedro quase saltavam do rosto.

– Chame Ignoto e Manuel, antes disso.

Rapidamente, Pedro convocou os dois para sua cabine, que chegaram em minutos.

– O que aconteceu, capitão? – o cozinheiro pergunta.

Apontando para Joaquim, disse:

– O aprendiz de Pero diz possuir a solução para nossos problemas. Agora desembuche!

principal doença que eles estavam enfrentando apresentava sintomas preocupantes para aquela época, dores nas articulações, sangramento na pele e gengiva, fraqueza, quedas dentárias e demora na cicatrização de machucados, além dos efeitos da falta de consumo de água adequado.

Explicando toda aquela situação, o médico concordava com quase todas as evidências que Joaquim apontava, porém ainda duvidava da capacidade do aprendiz de deduzir uma solução para aquilo.

– Então você propõe que dêmos parte do estoque de alimento para eles? – Manuel perguntou.

– Exatamente, ou perderemos muitos antes de chegarmos às Índias.

– Como pensou nisso tudo, garoto? Como possui tal conhecimento se és apenas um aprendiz de escrivão.

Atena gelou, não esperava que fossem perguntar sobre o conhecimento que tinha:

Dizer que apenas sabeFalar sobre um sonho com Deus