ELISA FROTA PESSOA
07/07/2023
Douglas Santana, João Rodrigues e Pablo Baioco
Conheça Elisa Frota Pessoa
Elisa Frota Pessoa
Originária da cidade do Rio de Janeiro, Elisa Frota nasceu como filha de Juvenal Moreira Maia e Elisa Habbema de Maia. Foi em 1935, durante seus anos escolares no Instituto Paulo de Frontin, que seu interesse pela ciência se manifestou. O professor Plinio Süssekind da Rocha exerceu uma influência significativa em sua vida, especialmente nas aulas de física. Ele a acompanhava de perto e a estimulava a explorar tópicos além do conteúdo programático estabelecido. Apesar da forte oposição familiar, notadamente do seu pai conservador, que acreditava que o casamento era a melhor opção de carreira para uma mulher, ela seguiu seu próprio caminho após concluir a educação básica. Dessa forma, ela se matriculou no curso de Física da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje conhecida como Universidade Federal do Rio de Janeiro) e obteve sua graduação em 1942.
Tornou-se a segunda mulher a se formar em Física no Brasil, juntamente com Sonja Ashauer, que se graduou na USP no mesmo ano. Destacando-se durante o curso, foi convidada pelo professor Joaquim da Costa Ribeiro para se tornar sua assistente já no segundo ano. Ela trabalhou com Costa Ribeiro, inicialmente sem remuneração, até 1944, quando foi contratada pela universidade. Aos 18 anos, enquanto ainda era estudante, ela se casou com seu ex-professor, o biólogo Oswaldo Frota-Pessoa, com quem teve dois filhos, Sonia e Roberto. Em 1951, ela se separou do marido e passou a viver com o também físico Jayme Tiomno.
Ao lado de Tiomno e outros físicos formados na mesma época, como José Leite Lopes, César Lattes e Mario Schenberg, ela contribuiu para o avanço da ciência no Brasil, apesar de enfrentar o preconceito de gênero e a desaprovação social por ser uma mulher divorciada em uma época em que o divórcio não era permitido no país. Entre 1942 e 1969, Elisa teve uma trajetória marcada por sucessos pessoais e ativa participação na luta contra o preconceito em relação ao trabalho das mulheres e o desinteresse da sociedade pelo desenvolvimento científico. Em 1949, ela foi uma das fundadoras do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde ocupou o cargo de Chefe da Divisão de Emulsões Nucleares até 1964.
Em 1950, ela publicou, juntamente com Neusa Margem, outro membro pioneiro do CBPF, o primeiro artigo de pesquisa da instituição recém-criada, intitulado "Sobre a desintegração do méson pesado positivo". Essa pesquisa forneceu resultados experimentais que apoiaram a teoria "V-A" das interações fracas. Outro trabalho notável de Elisa, publicado em 1969, encerrou uma longa controvérsia sobre a possibilidade de o méson π possuir spin diferente de zero. Ela também colaborou com pesquisadores europeus no estudo dos mésons K.
Elisa e os outros fundadores do CBPF desejavam que o centro fosse integrado à Faculdade (FNFi), mas enfrentam dificuldades financeiras que impediram a concretização desse objetivo. No entanto, conseguiram que os cursos do CBPF fossem reconhecidos pela faculdade. No entanto, o que mais satisfazia Elisa era o intercâmbio informal que estabelecia com seus alunos.
Em 1965, ela se mudou para Brasília para trabalhar na Universidade de Brasília. Em seguida, transferiu-se para a Universidade de São Paulo, mas foi aposentada compulsoriamente devido ao AI-5 em abril de 1969. Fugindo da ditadura militar, ela trabalhou na Europa e nos Estados Unidos, onde colaborou na formação de físicos brasileiros. Em 1975, Elisa começou a montar um laboratório de emulsões nucleares na PUC com a ajuda de Ernst Hamburger, do IFUSP (Instituto de Física da USP). Dois anos depois, em 1977, como membro do Departamento de Física Experimental do IFUSP, ela continuou seu trabalho na PUC em colaboração com o IFUSP.
Em 1980, ela retomou suas atividades no CBPF e estabeleceu um laboratório de emulsões nucleares para o estudo de espectroscopia nuclear. Mesmo após sua aposentadoria compulsória em 1991, ela permaneceu como professora emérita do centro até 1995.Contribuições e Fim de Carreira
Elisa foi uma das principais mulheres brasileiras a contribuir com o estudo da física. Foi uma das fundadoras do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde ficou 16 anos contribuindo com vastos artigos e pesquisas. Em seus últimos anos, Elisa enfrentou muitas dificuldades, tendo uma aposentadoria forçada e precisando fugir do Brasil por conta da ditadura militar. Procurou refúgio na Europa e nos Estados Unidos, onde trabalhou contribuindo para a formação de vários físicos brasileiros. Elisa foi importante tanto para a física como para contribuir na luta contra o preconceito que envolvia o trabalho das mulheres. Por conta disso, ainda é lembrada até hoje por diversos estudiosos, professores e cientistas tendo toda sua importância e trabalho ao longo dos anos reconhecido, recebendo a Láurea Máxima reservada para professores e pesquisadores excepcionais.