Atena sabia o que aconteceria se ela mudasse o percurso da história, mas ela precisava questionar o jeito de pensar de Pedro Álvares.

– Como o senhor consegue acreditar em algo que não existe? – Assim que o garoto proferiu tais palavras, o rosto de Pero Vaz foi de felicidade para desagrado e raiva.

– Como ousa questionar a Igreja e o comandante, menino. – ele dá um tabefe na nuca do garoto, e pela primeira vez, Atena sente um incômodo em usar aquele capacete, pois, além de levá-la para outra linha temporal, ela também podia sentir o que o garoto sentia, sua dor.

– Desculpe a ação idiota de meu aprendiz, ele sempre age com lógica, me foge a ideia de que ele agira desse modo. – Pero Vaz tentava contornar a situação, mas Atena continuou:

– Não gostei nada do tabefe que deste-mes, Pero. – o garoto olhava diretamente para o olho do escrivão, intimidando-o. – E se dissesse que vosso Deus não existe devido a falta de dados de confirmação de sua existência, o que move o mundo são as leis da natureza, não a vontade de alguém que não existe.

Atena falava com ódio, parecia que as emoções do garoto também influenciaram seu modo de pensar e agir. Por mais que não possuísse acesso a suas memórias, a raiva do desconhecido estava acumulada a muito tempo.

– Joaquim! Você me envergonha com estas palavras. – Pero Vaz o observava com raiva também, parecida que o velho compartilhava parte desse desgosto da relação de ambos.

Pedro apenas observava a reação rebelde de Joaquim, seu olhar o fulminava, mas não demonstrava raiva, via que as emoções do garoto pareciam-se com as de sua infância.

No entanto, um outro tripulante já o via com fogo nos olhos, além de ser muito religioso, não gostara nada das ideias anticristãs do menino.

– Chame o Padre Henrique, André, necessitamos expulsar o demônio que possuiu esta criança! – o tripulante agarrou o braço de Joaquim e o puxou próximo a si, ele era forte e alto comparado a finura do garoto.

– Solte-me, seu idiota! Não existem demônios, nem anjos, existe apenas a realidade pura e cruel na qual vivemos. – Joaquim grita enquanto acerta um soco bem no estômago do tripulante, derrubando-o.

– Pare logo com essas barbaridades, Joaquim, não foi assim que lhe eduquei. – Pero tentava, mas obtia apenas fracasso ao controlar a situação.

O garoto riu, demonstrando a insanidade que sua mente estava, suas ações eram movidas pelo caos e ódio, mas Atena não o controlava mais, parecia que emoções fortes descontrolavam o funcionamento de alguma parte da máquina, permitindo que a mente verdadeira de Joaquim tomasse o controle do corpo novamente.

Conforme a situação se desenrolava, mais pessoas se aproximavam do local, o cais estava lotado e até alguns tripulantes que carregavam armas pararam para assistir a cena, julgando e rindo das ações do menino.

Muitas coisas foram proferidas entre Joaquim e Pero Vaz de Caminha, o menino descontava toda sua raiva nas palavras, por mais que vivesse uma vida praticamente boa na casa de seu tutor, deixava evidente que o tratamento e cuidado de Pero era baseado na toxicidade. Atena nem mais falava, apenas acompanhava o caos mental do garoto.

Porém, o que mais marcou o fim de sua história e o experimento de Atena, foi o triste acontecimento que marcaria completamente a linhagem de sua família, modificando toda a linha temporal.

Assim que Joaquim começou a brigar com Pero Vaz, o tripulante que ele derrubou, levantou-se furioso e pulou em cima do garoto, segurando seu pescoço enquanto gritava com ele. As autoridades já se aproximavam do local quando ambos caíram no mar.

Joaquim estava ingerindo muita água, tinha conhecimento de várias coisas, mas desconhecida a natação, muito menos Atena sabia nadar, então estavam em desvantagem na luta contra o tripulante desconhecido e furioso.

Ao longe, vozes gritavam coisas inaudíveis devido a água e as mãos do seu oponente. Joaquim estava se afogando e sufocando, tentava a todo modo sair debaixo do tripulante, mas ele possuía uma força avassaladora que impedia Joaquim de submergir.

Seu corpo buscava por ar, mas a água invadia seu peito. Sua visão começou a escurecer, parando de relutar em seguida, abraçando a morte como uma velha amiga. Sua voz sumiu no instante em que a alma saiu do corpo.

Era a primeira vez que Atena via sua própria e não verdadeira morte, por um instante ela achou que iria morrer, devido a incrível simulação dos sentidos nos equipamentos, o medo a invadia, seguido da pena por ter causado a morte de seu ancestral.

De repente, um alarme ressoa pela sala, a Chronos está lutando para consertar a situação da linha temporal modificada. Atena sabia muito bem que deveria evitar a mudança na linha do tempo, mas jamais passou pela sua cabeça que as emoções do personagem a influenciaram na hora de realizar escolhas específicas na linha do tempo.

– Atena, retire os equipamentos agora e corra! Não sabemos o que está acontecendo com a Chronos.

Rapidamente, seguindo o protocolo de casos emergentes, Atena retira os equipamentos e corre, como sua vida literalmente dependia disso, e realmente dependia…

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